Mistério no fim
Uma mentira aparentemente inocente tumultuou o que seria uma notícia triste: a morte de Linda Eastman, mulher de Paul McCartney, aos 55 anos, no último dia 17. A morte em si não foi surpresa. Linda estava perdendo a batalha contra o câncer, como se via nas aparições públicas, em que exibia os sinais da quimioterapia. Seu fim foi relativamente tranqüilo, na medida em que isso é possível. Dois dias antes de morrer, ela cavalgou ao lado do marido. Não chegou a ser internada nem a enfrentar o terror dos dias derradeiros num hospital. Morreu nos braços de Paul.
A notícia da morte só foi divulgada dois dias depois, quando o corpo já estava cremado. "Foi uma bênção que o final tenha sido rápido e ela não tenha sofrido", conformou-se o marido. A versão da família veio a público por intermédio de um porta-voz do ex-beatle, Geoff Baker — e a boataria logo começou. Baker disse que a pacífica morte de Linda havia ocorrido em Santa Bárbara, na Califórnia. Onde estava o atestado de óbito? Onde aconteceu a cremação? Ninguém sabia, e a polícia de Santa Bárbara abriu investigação. A primeira suspeita foi de que a morte teria sido um suicídio assistido — operação humanamente compreensível, mas ilegal, em que um médico ajuda um paciente terminal a morrer.
A eterna mística dos Beatles deu um impulso extra aos boatos. Paul e Linda casaram-se em 1969, apenas um ano antes da dissolução do conjunto. Inevitavelmente, a fotógrafa americana foi acusada de responsável pelo fim do conjunto mais famoso de todos os tempos. Águas passadas. Foi John Lennon quem quis sair do grupo. O casal conseguiu o prodígio de manter um casamento estável, com evidentes sinais de amor, por quase trinta anos. Em 1995, o inferno começou. Operada de câncer de mama, Linda chegou a se acreditar livre da doença. Engano. A metástase devastadora atingiu o fígado. Restou apenas o pequeno consolo da morte pacífica.
Diante da boataria e de uma investigação policial em andamento, o porta-voz Baker apresentou nova versão na quinta-feira. Linda havia morrido na verdade no Estado do Arizona, onde o casal tinha, em segredo, uma fazenda havia mais de vinte anos. O objetivo da mentira sobre o local da morte era apenas preservar a privacidade da família. O médico Lawrence Norton confirmou a morte natural. Alguma dúvida, porém, sempre restará — no Arizona, os atestados de óbito são protegidos por uma garantia de sigilo.
Texto publicado pela revista Veja
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